domingo, março 29, 2009

Spooky the Tuff Little Ghost, Lelo o fantasminha, da Harvey

A popularidade das personagens da editora norte-americana Harvey Comics em Portugal não se ficou a dever à edição das suas aventuras em publicações nacionais, mas antes às edições brasileiras que por cá se vendiam nos anos 50, 60 e 70 do século passado e que nos chegavam com alguns meses de atraso, como ainda hoje acontece com as personagens de Maurício de Sousa. Muitas vezes destinadas primordialmente a um público infantil e juvenil, estas revistas eram acessíveis a quem possuía algum poder de compra, daí que a sua influência e o conhecimento das mesmas tenham sido limitados sobretudo à classe média, acabando por cair no esquecimento, e hoje em dia apenas algumas pessoas se recordarão de nomes como Gasparzinho (no original Casper, the Friendly Ghost, que obteve um sucesso razoável com uma medíocre longa-metragem de 1995 acerca desta personagem, num misto de acção real e animação), Brasinha (Hot Stuff), Luluzinha (Little Lulu), Bolinha (Tubby), Riquinho (Richie Rich), e muitas outras, em que se incluirá, muito naturalmente, um alargado leque de personagens secundárias, algumas das quais chegando a obter tanto sucesso como as principais.

Capa de uma edição de «Gasparzinho» da Editora Cruzeiro, de 1964.Este será o caso de Spooky the Tuff Little Ghost, que surgiu no número 10 da revista Casper the Friendly Ghost, de Junho de 1953, a qual iniciara a sua publicação um ano antes, aproveitando o sucesso que Casper obtivera no cinema de animação da Famous Studios. Desenhado por Howard Post, nascido em 1926 e que trabalhou para a Harvey e a DC, as aventuras desta personagem garantiram-lhe até os seus próprios títulos, como Spooky Spooktown (que se publicou entre 1961 e 1976), Spooky Haunted House (entre 1972 e 1975) e Tuff Ghosts Starring Spooky (entre 1962 e 1972), tendo a editora resolvido abandonar a publicação em Setembro de 1980 devido à quebra de vendas que este tipo de revistas sofreu na década de 70, muito embora, ao longo dos anos de maior sucesso, tenha simultaneamente surgido no cinema de animação.

Capa de uma edição de «Gasparzinho», da Editora Vecchi, anos 70.Como acima se afirmou, esta personagem foi conhecida em Portugal devido às publicações oriundas do Brasil, inicialmente da editora Cruzeiro e, posteriormente, da Editora Vecchi, da Globo e da Abril. Chegou a ter publicação autónoma, mas alternando em geral as suas aventuras com as de Gasparzinho, o Fantasma Camarada, como o intitularam os brasileiros, que conseguem aportuguesar os nomes de personagens com uma enorme criatividade (basta ver como foram intituladas as da Disney).

Spooky foi introduzido como primo de Casper, um parentesco nunca esclarecido, apresentando com esta muitas semelhanças físicas, ou não se tratasse igualmente de um pequeno fantasma, à excepção das sardas, do seu enorme nariz, e de um chapéu que era a sua imagem de marca. Facto difícil de apreciar na edição em língua portuguesa era a sua pronúncia da língua inglesa, característica de Brooklin, um típico bairro nova-iorquino de onde provinham muitas conhecidas personagens do cinema com fama de duros (tuff, ou seja, tough). O seu único propósito na vida era assustar pessoas, o que fazia amiúde, (embora nunca de forma excessivamente violenta), para grande tristeza da sua namorada, Pearl (a sua pronúncia levava-o a pronunciar o seu nome como Poil, que o censurava veementemente por esse comportamento e que o levava, uma vez por outra, a penitenciar-se e a corrigir estas atitudes, que raramente duravam muito tempo. No entanto, os sustos que causava muitas vezes acabavam por se virar contra si mesmo, colocando-o «em maus lençóis».

Recentemente têm sido editadas algumas antologias de aventuras da editora Harvey, numa interessante recolha de histórias há muito esquecidas, numa colecção intitulada Harvey Comic Classics, cujo 1º volume foi dedicado a Casper, publicando algumas das páginas de Spooky.

A prancha original aqui apresentada foi publicada na revista Casper número 163, datada de Setembro de 1972, constituindo a página 16 da referida revista. Conjuntamente com o desenho original, a preto e branco, mostramos igualmente a página, já colorida, tal como surgiu na revista. A dimensão da mancha é de 45,9 por 30,5 cm e a do papel é de 49,1 por 32,8 cm, aproximadamente. Como era habitual, não surgem assinaturas do seu autor, havendo apenas uma indicação manuscrita do número da publicação no canto superior esquerdo.




Clique para aumentar.
Clique para aumentar.


Etiquetas: , , , , ,

sábado, março 21, 2009

The Spider, King of Crooks (o Aranha), de Reg Bunn e Jerry Siegel

The Spider, que ficou conhecido em Portugal como Spider ou Aranha, é uma personagem algo atípica no mundo dos quadradinhos. Trata-se de um herói vilão, um criminoso, um fora da lei, cujas actividades são totalmente ligadas ao crime e cuja pretensão é tornar-se no maior criminoso do mundo. Tendo surgido nas páginas da revista britânica Lion a 26 de Junho de 1965, da editora Fleetway, logo se tornou numa das principais figuras desta revista, criando uma legião de admiradores. Fez parte de uma campanha para dar maior relevo à revista, que existia desde 1952, e que, face ao surgimento na Grã-Bretanha de comics norte-americanos, sobretudo da Marvel, com os seus característicos super-heróis, necessitava de renovação e de inovar o tipo de aventuras que apresentava nas suas páginas.

Um pouco à semelhança do Garra de Aço (The Steel Claw) das primeiras histórias, optou-se então pela apresentação de um anti-herói, cujas origens nunca foram determinadas, nem justificado o facto de ter uma fisionomia estranha, com orelhas pontiagudas, como o Mister Spock da série televisiva Star Trek (que também possui uma versão em quadradinhos, a que mais tarde aqui nos referiremos), e uma inteligência fora do normal, no entanto completamente orientada para o crime e para a criação de artefactos extraordinários, que o ajudavam nas suas façanhas. Logo após a primeira aventura, rapta um cientista que é também criminoso, e os extraordinários utensílios que utiliza são reforçados com novos aparelhos criados por este cientista, que se torna seu auxiliar. Aliás, a sua equipa foi crescendo a pouco e pouco, numa quadrilha onde ocasionalmente reinava a dissensão e que, por diversas vezes, pensando que o seu líder tinha morrido, chegava a pretender repartir o lucro dos vários crimes praticados.

Não se tratando propriamente de uma personagem dotada de superpoderes, como os heróis e vilãos norte-americanos (e também alguns britânicos, como era o caso de Tim Kelly, de Kelly’s Eye, também publicado entre nós), ainda assim muitas das suas acções caracterizavam-se por uma demonstração de capacidades fora do normal, permitindo alguns combates com outros criminosos dotados de fantásticos poderes, que constituíam claramente uma ameaça à sua pretensão de dominar o mundo do crime.

Capa de O Mundo de Aventuras nº 1121, de 18 de Março de 1971, com uma aventura do herói.Na origem de The Spider está o argumentista Ted Cowan e o desenhador Reg Bunn, tendo as histórias pouco depois passado para a responsabilidade de Jerry Siegel, um dos criadores de Superman, o Super-Homem, que se encarregou de dar origem à maior fatia das histórias publicadas, a partir de 1966, com a aventura The Spider v Dr. Mysterioso.

Capa de O Mundo de Aventuras nº 1158, de 2 de Dezembro de 1971, com uma outra aventura do «Aranha».A acção tinha lugar nos Estados Unidos, nomeadamente em Nova Iorque, ficando o refúgio da personagem num castelo que havia sido transportado da Escócia pedra por pedra e reconstruído num local ermo e isolado das redondezas.

Publicando-se entre 1965 e 1969, as aventuras desta personagem foram depois reeditadas na revista Vulcan a partir de 1975. Entre 1967 e 1970, surgiram algumas aventuras na publicação anual Lion Annual. Mais pormenores e uma cronologia das aventuras, bem como a indicação dos seus autores pode ser vista através desta ligação.

Reg Bunn (1905-1971), o principal artista da série, foi contratado após uma campanha levada a efeito em 1949 pela editora Amalgamated Press na imprensa para encontrar novos talentos, tendo levado uma vida difícil até começar a trabalhar como desenhador. Mas a sua mestria foi recompensada, já que se encarregou de desenhar inúmeras páginas para diversas revistas, tendo um ritmo de trabalho muito elevado, o que o levava frequentemente a abdicar cada vez mais de desenhar os fundos, concentrando-se nos pormenores, resumindo aqueles a um conjunto de traços, o que lhe granjeou a fama de rei do cross-hatch entre os seus pares. Muito do seu trabalho pode ser apreciado numa edição recente da Titan Books dedicado a The Spider. Uma crítica a esta publicação pode ser lida aqui. Como já havia acontecido e referido neste blogue acerca de Archie, o Robot, também The Spider foi retomado em Albion, por Alan Moore.

Capa do Jornal do Cuto nº 48, de 31 de Maio de 1978, que dá início à aventura «Homem-Aranha [sic] contra os Sete Sinistros», e que se estenderá, em continuação, até ao nº 88.Em Portugal, as aventuras desta personagem foram divulgadas sobretudo através de O Mundo de Aventuras, não tendo, no entanto, obtido o mesmo reconhecimento de outros países, como na Alemanha, França ou Itália. O seu nome nas aventuras era Aranha, tendo também surgido no Jornal do Cuto e em algumas outras publicações.

A página original aqui apresentada pertence à história intitulada The Spider versus The Crime Genie, sendo da autoria de Jerry Siegel (arg.) e Reg Bunn (des.). Não estando datada nem assinada, foi publicada na revista Lion, a preto e branco, como era habitual, a 4 de Março de 1967, conforme indicação manuscrita no topo da prancha.

A dimensão da mancha é de 46,3 por 38,5 cm, e a do papel é de 49,4 por 40,5 cm, aproximadamente, sendo constituída por duas tiras unidas no verso, sendo a superior bastante maior em altura do que a de baixo, constituída por duas vinhetas distintas. Devido à dimensão da prancha, a digitalização foi feita em diversas partes e depois unida, pelo que a imagem aqui apresentada apresentará algumas deficiências.




Clique para aumentar.


Etiquetas: , , , , , , ,

domingo, março 15, 2009

Kelly's Eye, (em Portugal Tim Kelly ou O Olho de Zoltec), de Solano Lopez

Kelly’s Eye, da autoria de Solano Lopez, surgiu nas páginas da revista britânica Knockout a 21 de Julho de 1962, revista que se publicava desde 1939. O herói que dava o título à história era Tim Kelly, que desde a primeira aventura se viu na posse de uma pedra de formato e aspecto semelhante a um grande diamante, o olho de Zoltec (The Eye of Zoltec), que o acompanhou daí em diante em todas as suas aventuras e que lhe proporcionava o poder da invulnerabilidade, daí o nome da série.

A popularidade destas histórias foi desde logo enorme, tendo sido uma das «jóias da coroa» da revista, e acompanhando-a até durante a sua fusão com uma outra publicação, Valiant, tendo deixado de publicar-se em Maio de 1974, muito embora no ano seguinte tenha surgido na estreia da edição escocesa Vulcan, em Março de 1975, tendo igualmente sido «recuperada» na recente publicação Albion: Origins.

Numa das suas aventuras, Tim conhece o Doutor Diamond, inventor de uma máquina do tempo no formato de um grande relógio de parede, semelhante a uma cabina, na qual ambos viajaram por diversas épocas. Ocasionalmente, Tim perdeu a sua pedra protectora, ou então roubaram-lha, mas no final acabou sempre por recuperá-la.

O seu autor foi o argentino Francisco Solano Lopez, como acima afirmámos, e a que aqui já nos referimos anteriormente, nascido em 1928 e que se estreou em 1950, vindo a tornar-se num dos melhores desenhadores argentinos, com obra publicada em todo o mundo, de que a mais conhecida será certamente El Eternauta, segundo argumento de Hector German Oesterheld. Trabalhou fora do seu país natal, nomeadamente no Reino Unido, para a editora Fleetway, para a qual criou a presente série, por vezes com argumentos de Tom Tully, muito embora tenha igualmente sido autor de muitos outros trabalhos, num ritmo quase alucinante, o que o levou a criar um estúdio em Buenos Aires, sendo por vezes apenas responsável pela arte final, muito embora assinasse as páginas aí produzidas, como muitos outros autores fizeram, sobretudo nos Estados Unidos.

Em Portugal, se não me falha a memória, algumas das histórias foram publicadas n’O Mundo de Aventuras, por exemplo no número 948 e no Condor Popular, embora não sequencialmente, e também em edições da Portugal Press, nomeadamente no Jornal do Cuto.

A página original aqui apresentada não está datada nem assinada, mas apresenta, no verso, uma nota manuscrita que refere a revista Valiant, e o número e data em que foi publicada, «March 30th / Page 24». As suas dimensões são de 48 por 38,5 cm para a mancha e de 51,5 por 41 cm para o papel, aproximadamente. Trata-se de três tiras separadas, unidas no verso. O cabeçalho é cópia de original. A imagem pode ser aumentada com um clique do rato.

Resolução: 300 dpi.




Clique para aumentar.


Etiquetas: , , , , , ,

sábado, março 07, 2009

Histórias esquecidas 32: O Voto de Afonso Domingues, por José Baptista

Afonso Domingues é mais uma personagem histórica que deu azo a diversas histórias, tanto nos quadradinhos, como é o caso destas páginas que aqui mostramos, como na literatura, tendo estado na origem de A Abóboda, de Alexandre Herculano, uma das suas Lendas e Narrativas.

Sendo a história de Portugal rica em factos e personagens, muitos destes e destas foram objecto de versões em quadradinhos, a que o regime anterior à Revolução de Abril não foi alheio, já que se aproveitava para realçar o espírito nacionalista, escamoteando, muito embora, muitos outros acontecimentos históricos menos abonatórios do carácter heróico dos portugueses.

Afonso Domingues está, de facto, relacionado com uma lenda ligada à construção do Mosteiro da Batalha, de que foi o primeiro arquitecto, não tendo, devido à sua avançada idade, terminado de construir esse monumento.

A história aqui apresentada é da autoria de José Baptista, a que já aqui anteriormente nos referimos anteriormente, e foi publicada nas páginas de O Mundo de Aventuras, dos números 437, de 2 de Janeiro de 1958, ao 444, de 19 de Fevereiro de 1958, a uma cor, excepto no primeiro número indicado, que saiu a duas cores, acompanhado por um pequeno artigo acerca do seu autor, que aqui também publicamos, e em que se assinala a entrada do artista para os quadros da Agência Portuguesa de Revistas.

A história estendeu-se, portanto, por oito páginas, ao ritmo de uma página por número, não tendo havido nenhuma capa destacando a aventura, porventura devido à sua curta extensão, já que era hábito que pelo menos um dos números apresentasse uma capa alusiva à história em estreia, com desenhos em muitos casos da autoria do próprio autor.

As imagens podem ser aumentadas ao clicar nos desenhos.

Resolução: 300 dpi.






Primeira página da história, publicada no número 437 de «O Mundo de Aventuras», de 2 de Janeiro de 1958. Clique para aumentar.

Clique para aumentar.

Clique para aumentar.

Clique para aumentar.

Clique para aumentar.

Clique para aumentar.

Clique para aumentar.

Última página da história, publicada no número 444 de «O Mundo de Aventuras», de 19 de Fevereiro de 1958. Clique para aumentar.

Etiquetas: , , , ,

Get Free Shots from Snap.com